sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Vida Sexual na Medicina Chinesa

Vida Sexual na Medicina Chinesa

Giovanni Maciocia


A Medicina Chinesa sempre insistiu na importância da atividade sexual excessiva: este artigo chamará a atenção a dois fatores:
- A diferenciação entre homens e mulheres no que diz respeito à atividade sexual.
- Atividade sexual insuficiente como causa de enfermidade.

Quando se fala de atividade sexual, os livros chineses nunca diferenciam homens e mulheres. Há diferenças significativas entre a fisiologia sexual masculina e a feminina, pois o excesso de atividade sexual é um fator que causa menos enfermidades em mulheres do que em homens, devido à natureza do Tian Gui.
Tian Gui é a essência geradora que faz homens e mulheres serem férteis. O primeiro capítulo do Su Wen diz: “Quando a menina alcança os 14, o Tian Guichega, o Ren Mai se abre, o Chong Mai floresce, a menstruação começa e ela é capaz de conceber.” No caso dos homens, “quando um rapaz tem 16, o Qi do Rim é forte, o Tian Gui chega, o esperma é ejaculado, Yin e Yang estão em harmonia e ele é fértil.” Portanto, Tian Gui é a essência que permite às mulheres conceber e aos homens fertilizar.
Nos homens, a perda de esperma implica em uma perda de Jing (Essência), por isso, a atividade sexual excessiva (muito frequente) pode diminuir o Jing. Nas mulheres não há a mesma perda de Jing na atividade sexual, já que não há perda de óvulos durante o ato.
Ainda que os livros chineses sempre mencionem o excesso de atividade sexual como causa de enfermidade, nunca mencionam a atividade sexual insuficiente como possível causa de enfermidade. Não foi sempre assim, pois nas dinastias passadas todos os manuais de sexo diziam claramente que a atividade sexual é essencial para a saúde tanto de homens quanto de mulheres. De fato, a abstinência sexual era vista de forma suspeita (assim como as monjas budistas).
Alguns médicos chineses consideravam tanto a falta de sexo quanto a frustração sexual como uma das principais causas de estresse emocional em mulheres. O desejo sexual depende do Fogo Ministro, e um apetite sexual saudável indica que este Fogo (fisiológico) é abundante. Quando o desejo sexual cresce, o Fogo Ministro se aviva e o Yang aumenta: o orgasmo é a liberação desta energiaYang acumulada, e sob circunstâncias normais, é uma descarga benéfica de Yang-Qi que promove a livre circulação do Qi. Quando o desejo sexual cresce, o Fogo Ministro se agita, isto afeta a Mente (Shen) e especificamente o Coração (Xin) e o Pericárdio (Xin Bao). O Coração conecta-se ao Útero através do vaso do Útero (Bao Mai), e nas mulheres as contrações orgásmicas do útero descarregam a energiaYang acumulada do Fogo Ministro.
Quando há desejo sexual, mas não há atividade sexual e orgasmo, o Fogo Ministro pode tornar-se patológico, acumulando-se e gerando calor no Sangue (Xue) e estagnação de Qi no Aquecedor Inferior. Este calor acumulado agitará o Fogo Ministro ainda mais e perturbará o Shen, até que a estagnação de Qi no Aquecedor Inferior possa ocasionar problemas ginecológicos, como a dismenorréia. Assim sendo, quando há ausência de desejo sexual, a falta de atividade sexual não será causa de enfermidade, contrariamente a alguém que se abstenha da atividade sexual mas que possua um forte desejo, o que agitará o Fogo Ministro. Portanto, o fator determinante é a atitude mental e o desejo sexual.
No que diz respeito à frustração sexual, Chen Jia Yuan, da Dinastia Qing, escreveu de maneira muito observadora a respeito do desejo e da solidão de algumas mulheres. Entre as causas emocionais de enfermidade, diferencia a “preocupação e o pensamento” da “depressão”. Basicamente considera a depressão, com sua consequente estagnação, como consequência da frustração emocional e sexual e da solidão. Diz: “Em mulheres...como viúvas, monjas Budistas, servas e concumbinas, o desejo sexual agita (a mente) por dentro, mas não podem satisfazer o Coração (Xin). O corpo está restringido por fora e não pode se expandir com a mente (a mente deseja a satisfação sexual mas o corpo o nega). Isto causa estagnação de Qi no Triplo Aquecedor (San Jiao) e no peito, após algum tempo haverá sintomas estranhos como sensação de frio e calor como se fosse malária, mas não é. É a depressão”.1
Mesmo que as considerações acima derivem da experiência clínica do Dr Chen com servas, monjas Budistas e Concumbinas, e considerando que sua experiência deveria ser considerada em relação ao contexto social da Dinastia Qing, isto também é relevante nos tempos de hoje, já que fala essencialmente sobre a frustração sexual e solidão, como confirma sua referência a viúvas (na China antiga as viúvas eram deixadas a um segundo plano e raramente voltavam a se casar). Refere-se especificamente ao desejo sexual que agita o corpo mas não encontra satisfação nem no Coração nem na Mente: além da frustração sexual, se refere também à frustração emocional e ao desejo de amar e ser amado.
Portanto, considerando a posição social das mulheres na China Antiga e a habitual frustração destacada acima, não é de se estranhar que a estagnação de Qiocupe um lugar tão central nas patologias femininas, sendo a estagnação emocional em mulheres frequentemente o resultado da frustração sexual, separação, perda e solidão: estes são os ”desgostos” recorrentes nos livros de medicina chinesa.
A frustração sexual era uma causa comum de enfermidade especialmente a partir da Dinastia Song em diante, já que os Confucionistas não viam com bons olhos a atividade sexual, que deveria ser praticada em segredo, e mesmo assim sem nenhuma amostra de afeição em público (como acontece hoje em dia na China). O modo de atuar em segredo da medicina e sociedade chinesa é um resultado claro não tanto da influência Comunista, mas da influência Confucionista da dinastia Qing. É importante compreender, porém, que estas regras não implicavam em nenhum conceito de sexo relacionado a “pecado”, nem que a mulher fosse vista como origem do pecado como estabelece o ponto de vista Cristão. A aversão Confucionista ao sexo era determinada principalmente devido ao medo de que a promiscuidade pudesse atrapalhar a sagrada vida em família.
1- Eight Secret Books on Gynaecology, p.152.
Traduzido do artigo: Vida Sexual en Medicina China - Maciocia, Giovanni (http://maciociaonlinespanish.blogspot.com/2011/07/vida-sexual-en-medicina-china.html)

sexta-feira, 17 de maio de 2013

MAITUNA.

Texto de Luara Tanuri terapeuta tântrica exelente guia para quen  quer explorar os camininhos do prazer. derruba os paradigmas tradicionais nos ensinando a liberdade do caminho do tantra.



Que é sexo tântrico? Todos podem praticar? Como começar e por que investir nessa "viagem"?

Sexo tântrico é a relação sexual entre seres que possuem alguma consciência de sua existência como "algo além do corpo". Com o foco no polo indivíduo (da cintura para cima), é o sexo que é feito de corpo e alma literalmente. Todos podem praticar, desde que tenham corpo e alma. Para começar é preciso querer, porque dá trabalho. Investir nessa viagem vale a pena para quem não se contenta com o que nos foi vendido como sendo sexualidade humana. Para quem quer mais da relação íntima com o semelhante, investir vale a pena só para quem quer mais, aquel@s que estão plenamente satisfeit@s com sua vida sexual não precisam investir na busca, afinal, se tudo está ótimo, continue assim.
Mas......

Se você acha que existe uma possibilidade da sexualidade ser uma forma de expressar a amorosidade e o respeito à vida, se você imagina que através do contato sexual é possível viver um êxtase que está além do simples prazer, essa busca é para você!
O primeiro passo são as preliminares e eu não me refiro às carícias ou ao "repertório básico" para que o casal fique suficientemente excitado para a penetração. Preliminar é aquilo que se faz antes da prática sexual, é a preparação e deve ser feita individualmente. Desenvolvendo as ferramentas e afinando o instrumento. Ferramentas? Retenção seminal, sensualidade, sensibilidade na pele, consciência corporal, força física, percepção orgástica. Instrumento afinado? Limpeza (corpo físico, emocional e mental), abertura do quarto chakra, entrega, busca espiritual e consciência da divindade oculta n@ parceir@. Esses são objetivos, é claro que vamos continuar a praticar sexo antes que todos esses objetivos tenham sido alcançados com pleno êxito. A sexualidade tântrica pode ser vivenciada desde que @s parceir@s queiram, mesmo antes de ter o instrumento afinado e as ferramentas desenvolvidas perfeitamente.

Vamos começar? Antes de tudo a sensualidade e o erotismo. O olhar cheio de intenção, a sedução, o gesto, a promessa não verbalizada. Depois a aproximação lenta, lenta e lenta. Podem tomar um banho junt@s desde que seja bem demorado, muita espuma, toque macio e carinhoso, nehuma pressa ou malícia. Tudo é uma bricadeira, deve ser divertido, portanto risadas são sempre bem vindas, assim como palavras doces e amorosas.
 
A primeira e principal troca é no polo indivíduo, ou seja, da cintura pra cima. Olho no olho, troca de alento, troca de saliva, peito colado, respiração sincronizada. Até que aconteça a penetração é uma novela, mas depois que acontece o ideal é que as genitais permaneçam unidas por um longo tempo. Mas essa novela é mais deliciosa que qualquer produção televisiva ou qualquer sonho de dramaturgia. Depois de muitas carícias no corpo (todo!) o casal começa um jogo para a penetração. Primeiro só a glande entra na vagina ou ânus, fica alguns segundos alí dentro sem movimento, só sentindo.

Retira-se o pênis para apoiá-lo no prepúcio do clitóris ou no pênis do parceiro, no caso de uma relação entre homens. No caso de uma relação entre mulheres, indico que a penetração seja feita com o dedo indicador e o procedimento é o mesmo, primeiro só uma falange entra apontando para cima (gancho) e permanece por alguns segundos. Esse jogo se estende por alguns minutos. A penetração é um pouco mais profunda a cada oportunidade. Sempre lentamente na entrada e na saída, para depois apoiar no corpo do clitóris e lá permanecer por algum tempo. Mesmo com o contato genital o foco continua no polo indivíduo o tempo todo, respiração, olhar, alento, saliva e coração.
Depois de um tempo nesse jogo o casal atinge uma penetração profunda, nesse momento os corpos devem estar relaxados e sem movimento algum. É permitida uma "linguagem secreta" entre o casal, ou seja, contrações do perínio que fazem o pênis se mover para cima e para baixo e contrações da musculatura vaginal (ou esfíncter anal) que apertam e sugam o pênis. Mas por um tempo o ideal é que não existam movimentos pélvicos. Além da linguagem secreta, qualquer movimento deve ser involuntário apenas, vibração por exemplo, aquela que acontece naturalmente com a subida da energia sexual pelos chakras. Quando o casal sente que existe um relaxamento e tranquilidade a Shakti inicia um movimento com os quadris que deve ser desposado pelo Shiva. Quem dá o tom e o rítmo é sempre a Shakti (princípio feminino), mesmo em uma relação homossexual, aquel@ que estiver no papel receptivo faz o papel da Shakti. Os movimentos pélvicos são circulares e sem perder o contato, a penetração é profunda, os corpos não se descolam, as púbis permanecem unidas. Deve-se evitar amplitude de movimentos para penetração, na maior parte do tempo a movimentação é circular e não de vai e vem. Já falei sobre foco lá em cima, né? Nunca é demais lembrar, olhar, beijo, respiração sincronizada, sorriso, cumplicidade....

Depois que a união está estabelecida é possível a variação de posturas, mas o ideal é que o casal tenha contato visual. Mesmo quando o Shiva está no comando dos movimentos, deve estar sempre atento para os sinais da Shakti e nunca impor seu rítmo, a magia e a sensualidade são femininas, se um dos parceiros se deixa levar pelo impulso agressivo do princípio masculino a experiência deixa de ser amorosa, deixa de ser tântrica. Sexo tântrico só é possível a partir do princípio feminino, mesmo quando entre dois homens, afinal todos nós temos em nós os dois princípios cósmicos.
Um fator importantíssimo na prática sexual tântrica são as pausas. Permanecendo na união o casal cessa a movimentação e descansa. Ainda com os corpos colados e genitais unidas com penetração se possível, percebendo a respiração e se acalmando para recomeçar os movimentos depois de alguns minutos. O orgasmo não é um objetivo, mas a observação de si mesm@ na experiência orgástica, sensual, erótica e amorosa. Todas as sensações são experimentadas a partir da consciência e o objetivo é a união máxima com o outro e assim a união com o todo, com a teia, Tantra é a trama universal onde tudo se imbrica.
O ideal é que não aconteça ejaculação, mas isso não é uma regra desde que a relação dure pelo menos duas horas. O sexo tântrico pode durar muitas horas, até um dia inteiro. A energia do Amor é tão poderosa que mesmo depois de alguns dias @s praticantes permanecem "brilhando". Ficamos chei@s de energia criativa, a pele mais bonita, bem humorad@s, é o êxtase que permanece reverberando por alguns dias depois da experiência. Monogamia também não é uma regra, entretanto é um caminho possível e provável. A partir de minha experiência pessoal, percebo quão difícil é encontrar uma parceria para a prática sexual tântrica. Isso acontece principalmente porque a maioria dos homens e mulheres não estão dispostos a encarar a sexualidade como algo realmente importante e sagrado, preferem ou estão acostumados a usar o sexo como um entretenimento (algo divertido para se fazer no domingo a tarde?) e isso na melhor das hipóteses. Encontrar uma pessoa que queira mais profundidade nas experiências e com quem se sintonize energeticamente é como ganhar na loteria! E então, talvez, a vontade de estar com ela seja maior que o simples desejo por outros corpos.
No sexo tântrico, ou maithuna, o objetivo é uma experiência espiritual através da união íntima com o semelhante. Para que isso aconteça o ingrediente principal é a reverência à divindade oculta no homem (Shiva) e na mulher (Shakti). Percebendo que além de um ser humano que você conhece como sendo @ Fulan@ de tal com suas idiossincrasias, existe alí, diante de você e dispost@ a se unir a você, um@ representante da divindade do princípio universal masculino ou feminino. Em essência o encontro é com o Shiva ou com a Shakti.

Amor e Luz!



segunda-feira, 22 de abril de 2013

Tantra = sexo?

Pedro Kupfer - 23 de Julho de 2000 -
Algumas pessoas têm me procurado através deste site solicitando informações sobre 'aulas de Tantra'. Como não sei exatamente o que elas entendem por Tantra, fico me perguntando como poderia ajudá-las a encontrar o que buscam, ou a evitar as armadilhas em que se arriscam a cair.
Para começar, vamos dizer o que o Tantra não é. Tantra não é um guru mequetrefe prometendo orgasmos múltiplos e iluminação e cobrando mundos e fundos por isso. Tantra não é uma prostituta com nome de deusa oferecendo seus serviços na internet. Tantra não é um grupo de alienados carentes se excitando e alisando em nome da hiperconsciência. Tantra não é sacanagem, nem infidelidade institucionalizada. Tantra não tem nada a ver com "soltar a franga". Tantra não é tara.
Aquilo que os clones tupiniquins de Osho chamam de Tantra, não é o Tantra (por favor, veja o esclarecimento no fim deste texto, antes de se ofender e interromper a leitura. Obrigado!). Os cursos de Tantra associados à sensualidade, técnicas sexuais e promessas de iluminação através da excitação sexual têm como objetivo sustentar a forma de vida de certos autodenominados 'mestres', que buscam satisfazer seus próprios desvios sexuais e desejos de manipular pessoas, ganhando um dinheirinho de quebra.
Então, o que significa essa palavrinha de seis letras? Tantra é o nome de um vasto leque de ensinamentos práticos que têm como objetivo expandir a consciência e libertar a energia primal do ser humano, chamada kundalini. O princípio comum a todos os caminhos práticos de Tantra é que as experiências do mundo material podem usar-se como alavanca para conquistar a iluminação, já que este é a manifestação de uma outra realidade, sutil e superior, que está conectada com a nossa própria natureza.
Nesse contexto, a visão do Tantra associada ao êxtase sexual é pateticamente superficial e parcial, se comparada com a verdadeira tradição. O Tantra não é hedonista nem orgiástico. O objetivo do Tantra é o despertar da força potencial no homem.
Um colega, professor de Yoga, comentou recentemente que apenas 10% dos textos tântricos tratariam sobre sexo. Pessoalmente, acho esse número demasiado elevado. Dos muitos shastras que consegui garimpar na Índia, em sânscrito e em inglês, não têm sequer um que trate em detalhe da sexualidade. Algumas técnicas sexuais, como a reabsorção seminal após a ejaculação (vajroli), se descrevem, por exemplo, na Hatha Yoga Pradípika.
A única obra hindu que conheço que trata explicitamente sobre sexualidade, e como aumentar a performance na cama, é o Kama Sutra, que não é um shastra tântrico e que, por sinal, fala muito mais sobre ética do que você poderia pensar sem ter a obra em mãos (1).
Embora existam diversas vertentes dessa tradição, todas têm o mesmo objetivo e usam as mesmas ferramentas para atingi-lo: mantras (sons de poder), yantras e mandalas (diagramas sagrados sobre os quais se exerce a concentração), chakras (centros da força vital), práticas de iniciação e purificação e um sistema ético que une e protege o grupo de praticantes. Essa lista de práticas é incompleta, pois os métodos dessa tradição incluem um espectro muito amplo de crenças e técnicas.
Tantra significa literalmente tecido, urdidura; pode ser traduzido como 'espargir o conhecimento' ou 'a maneira certa de se fazer qualquer coisa', tratado, autoridade, estender, multiplicar, continuar.
Também designa o encordoamento do sitar ou outro instrumento musical. É o nome de um movimento filosófico que compartilha suas principais premissas com a filosofia do Yoga, herança e patrimônio da cultura dos rios Indus e Sarasvati. O culto da Grande Mãe está presente na Índia desde o neolítico (8000 a.C.), mas os mesmos símbolos que o tantrismo utiliza hoje remontam ao paleolítico (20000 a.C.) e estiveram sempre presentes ao longo do continente eurasiano.
O Tantra assimilou e organizou os rituais da Magna Mater, transformando-os num método de emancipação que busca na psique humana a manifestação da própria força da Shakti. Esse movimento teve uma forte influência sobre a religião, a ética, a arte e a literatura indianas, havendo ressurgido com inusitada força entre 400 e 600 d.C., quando chegou a transformar-se numa moda que acabou por influenciar nos modos de pensar e agir da sociedade indiana medieval. Aqui ela se afirma, populariza e estende ainda mais, dando origem a um grande número de correntes e manifestações filosóficas, religiosas, mágicas e artísticas, algumas antagônicas.
"Não se trata de uma religião nova, senão de uma nova caracterização de fatos que pertencem ao hinduísmo comum, mas que, às vezes, só se apresentam precisamente em suas formas tântricas. Percebe-se o selo do tantrismo na mitologia e na cosmogonia, mas, principalmente, no ritual. O gérmen se remonta com freqüência aos Vedas, especialmente ao Atharva Veda, que pode considerar-se um hinário pré-tântrico." Jean Renou, El Hinduismo, p. 89.
O Tantra não pertence à tradição ortodoxa hindu, já que não existe um darshana com esse nome. Sua visão do mundo é herança e síntese da Índia aborígene e da Índia vêdica, muito mais antigas do que imaginaram os estudiosos ocidentais do século XIX. É uma forma de ver a vida e cada um de seus aspectos.
Há diferentes linhas do tantrismo: o Dakshinachara, linha da 'mão direita', ou de tantrismo branco, se justapõe, através dos 'rituais de compensação', ao Vámachara, corrente da 'mão esquerda', do tantrismo negro, corrente na qual se destaca a escola Kaula, fundada por Matsyedranatha por volta de 900 d.C.
O tantrismo negro se caracteriza pelos rituais de transgressão, como o pañchamakara (os cinco m), no qual o praticante utiliza a ingestão de bebidas embriagantes, carnes e o coito ritual como meios de chegar à sacralidade. Podemos identificar alguns desses rasgos no Rig Veda, nas libações ceremoniais do soma e nos rituais sexuais. No ritual de compensação do Dakshinachara, o vinho é substituído por água, a carne por coco seco, o coito pelo culto da Shakti, etc.
O Yogini Tantra (V:14) diz:
"Madya, o vinho, é o conhecimento intoxicante do Parabrahman adquirido através do Yoga, que isola o praticante do mundo exterior. Mamsa não é a carne, mas o gesto em que o sadhaka consagra todos seus atos à Shaktí. Matsya, o peixe, é o conhecimento sáttvico pelo qual o adorador sente compaixão pelo prazer e a dor de todos os seres. Mudra, o cereal tostado, simboliza a renúncia a todas as formas do mal, que conduzem a novos condicionamentos. Maithuna é a união da kundalini shakti com Shiva no corpo do adorador."
Um dos artigos de fé do povo vêdico era, portanto, que a união sexual conduzia à bem-aventurança do além e devia cumprir-se com verdadeiro espírito religioso para assegurar o bem-estar espiritual, censurando-se severamente a lascívia." S. B. Lal Mukherjí, ensaio em Shakti y Shakta, de Sir John Woodroffe, p. 83.
A visão cosmogônica do Tantra, com suas perguntas essenciais, evidencia uma atitude especulativa sobre a antropogênese que a vincula ao Samkhya. A cosmogonia se caracteriza pela união dos opostos: isto é, se trata de uma coincidentia oppositorum, conjunção dos opostos que se complementam. Essa idéia não é original do Tantra: existiu em outras cosmovisões ao longo da história da Humanidade; mas o tantrismo recupera para si esse princípio, muito mais antigo que ele próprio.
Esses dois princípios em coincidentia oppositorum são Shiva e Shakti. Os rishis, sábios ascetas do alvorecer do pensamento hindu, chamaram Brahman ou Shiva o princípio primordial. Tudo existe em função dele, tudo é reflexo e evidência da sua realidade. Não há noção de criação do mundo nem há Deus: no plano macrocósmico, Shiva é, parafraseando Aristóteles, o motor imóvel do mundo. É o Princípio Imutável e Eterno, nem ativo nem criador. Ele não faz nada: apenas é. Sua manifestação é Shakti, palavra que significa energia e, por extensão, esposa. Shakti é a Prakriti, a Natureza do Samkhya, a energia criadora que provoca a manifestação do Universo.
Shiva é inabalável: a ele pertencem o Ser e a Consciência; à Shakti correspondem o movimento, a mutabilidade e a geração. Esses dois princípios se representam na iconografia do tantrismo unidos no viparíta maithuna: Shiva aparece deitado ou sentado, imóvel, enquanto Shakti está sempre sobre ele, ativa no ato da manifestação.
Esse modo de pensamento não é religioso, dogmático ou doutrinário, mas estritamente especulativo. Dessa maneira, o Tantra, assim como o Samkhya, se aparta de outras visões que incluem os conceitos de criação, divindade, origem do mundo, et coetera.
Contudo, o Tantra possui uma certa semelhança com algumas formas de panteísmo: O que está aqui, está em toda parte; o que não está aqui, não está em parte alguma (2). Daí provém o culto à Natureza e à feminilidade. Para o Tantra, o mundo tangível é bem real: ilusório é pensar que o Ser (Shiva) intervenha ativamente no Universo manifestado.
Agora, vamos falar um pouco sobre a parte do Tantra que se ocupa do sexo ritual. A incompreensão do Tantra e o simbolismo que o transmite colaborou para considerá-lo repulsivo, vergonhoso e digno de escárnio. A preocupação daquele que condena o Tantra é fruto da sua própria obsessão com a questão sexual, que o leva a querer coartar a liberdade dos demais. Nesse sentido, o tantrismo é totalmente natural, e a sua abordagem do sexo não é patológica, mas absolutamente sadia, de uma espontaneidade difícil de aceitar para os padrões da 'decência' cristã.
Maithuna, o ritual sexual, não tem nada a ver com pornografia ou licenciosidade, muito pelo contrário, é um instrumento que revela a dimensão divinal da natureza humana. Entretanto, nos últimos tempos, têm surgido mestres inescrupulosos que vendem sexo como se fosse superconsciência, o que acaba por divulgar e tornar conhecidas no Ocidente unicamente as formas mais vulgares e degradadas do Tantra.
"O maithuna é a técnica tântrica que mais fascina os ocidentais, que com demasiada freqüência confundem-na com uma indulgência para com os apetites sexuais, em vez de vê-la como meio para dominá-los." Daniel Goleman, A Mente Meditativa, p. 98.
Enquanto alguns buscam a elevação através da repressão ou da eliminação do desejo sexual e suas raízes (samskaras), para o tantrismo a sua utilização é condição básica. O homem deve evoluir executando as mesmas ações que causam a sua perdição. Assim, afirma o Kularnava Tantra:
Quando caímos no chão, é com o auxílio do chão que nos levantamos.
"Pelo próprio fato de não se tratar de um ato profano, mas de um rito, no qual os participantes não são mais seres humanos senão que estão 'desprendidos', como deuses, a união sexual não participa mais do nível kármico. Os textos tântricos repetem com freqüência o adágio: 'pelos mesmos atos que fazem com que muitos homens se queimem no inferno durante milhões de anos, o yogin obtém a salvação eterna'. (...) O jogo erótico se realiza num plano transfisiológico, porque nunca tem fim. Durante o maithuna, o yogin e sua náyiká (4) incorporam uma 'condição divina', no sentido de que não somente experimentam a beatitude, senão que podem contemplar diretamente a realidade última." Mircéa Éliade, El Yoga. Inmortalidad y Libertad, pp. 194, 197.
Um esclarecimento a eventuais leitores desatentos: quando escrevo "clones tupiniquins de Osho", não estou, de maneira alguma, querendo ofender Osho ou seus discípulos. Um clone é uma cópia. No dicionário encontramos a seguinte definição de clone. É "o que aparenta ser a cópia de uma forma original". Tupiniquim, ainda segundo o dicionário, significa "indígena pertencente ao grupo dos tupiniquins. Uso: informal, jocoso ou pejorativo". Um "clone tupiniquim", portanto, é um imitador que não chega aos pés do original; uma cópia malfeita, chinfrin, um imitador barato, um auto-didata aspirante a "mestre" de sexo tântrico. Conheço algumas pessoas desse naipe que, por exemplo, promovem cursos de "nudismo consciente" e outras palhaçadas. Minhas desculpas se o tom de algumas seções deste texto ofende pessoas que consideram que o Tantra seja mesmo uma terapia sexual. Na dúvida, perguntem ao Dalai Lama, um tântrico da melhor estirpe. Namastê!

(1) Recomendo a tradução de Alain Daniélou, The Complete Kama Sutra, Park Street Press, Rochester, Vermont.
(2) Vishwasara Tantra (citado por Sir John Wodroffe, Shakti y Shakta, p. 216).
(3) Indrabhuti, Jñanasiddhi, 15.
(4) Nayika: heroína, mulher nobre, shakti. Uma das formas de Durga.

domingo, 21 de abril de 2013



Artigo de um dos Atuais Gurus do Neo Tântra Director do Centro METAMORFOSE

Qual a relação do Tantra com o Sexo?
De todas as formas de prazer, a mais contagiante e transbordante é o prazer sexual. A maior fonte de prazer que o ser humano pode experimentar é o orgasmo. Mas o orgasmo ainda está longe de ter todo o seu potencial desenvolvido e compreendido pela sociedade humana. Existem alguns fatores físicos e psicológicos que interferem negativamente sobre a natureza, a qualidade e a intensidade do orgasmo, afetando ou até mesmo anulando o seu potencial de transcendência.
Sobre o ponto de vista físico, as dificuldades se relacionam com o baixo tônus muscular dos músculos sexuais (os músculos penianos do homem e os músculos clitorianos e intravaginais da mulher). Como a sexualidade foi despertada de forma imprópria na espécie humana, normalmente com as práticas masturbatórias, muitos componentes de ansiedade e de rapidez da experiência orgástica prevaleceram, condicionando a experiência de orgasmo a situações antagônicas de medo, ansiedade e insegurança. Os fatores psicológicos foram determinantes em muitas situações, desqualificando a descoberta do prazer sexual, situando-a como algo sujo, proibido, prevaricado, indigno; feito nos porões escuros e subterrâneos da alma, sem que ninguém possa saber, como um ato de isolamento e de pecado.
Se você trabalhar sobre esse tipo de prazer, o orgasmo – e sobre esse instinto poderosíssimo, que é o instinto de preservação da espécie, a energia sexual começa a trabalhar a seu favor, liberando novos aspectos da sua sacralidade e da sua conexão com a fonte espiritual da vida, dando-lhe novas informações sobre o sentido e a importância de viver.
O orgasmo foi totalmente distorcido de seu propósito original, que é vibrar as células do corpo com tamanha originalidade que uma certa florescência luminosa impregna as células reprodutivas do corpo, abrindo sintonia com fontes mais elevadas e evoluídas ligadas à nossa natureza ancestral. É possível alcançarmos um grande Orgasmo, de proporções cósmicas que nos ligam às frequências do êxtase universal, onde um gozo de beatitude sideral nos conecta diretamente com a fonte da criação. Quando um casal harmonizado e envolvido por essa energia experimenta um orgasmo conjuntivo, integrado, que acontece aos dois ao mesmo tempo, com grande intensidade, há uma ligação espiritual que os coloca em sintonia com outras esferas, onde também se afinizam com seres que vibram nessa magnitude.
A compreensão do poder dessa sexualidade invoca um estado de consciência que integra o seu poder criador e os seus benefícios sobre a evolução do nosso mundo. Ao longo dos anos, tenho testemunhado a experiência de inúmeras pessoas que já experimentaram esse processo de transcendência. Muitas delas fazem parte da equipe do Centro Metamorfose, atuando e trabalhando no propósito de despertar em outros essa consciência da unidade, que não se nega a experimentar o caminho da elevação da energia Kundalini de forma consciente e equilibrada.
A descoberta da frequência mais elevada da sexualidade sagrada tem relação com a expansão do estado de amor, independentemente da condição dos parceiros serem heterossexuais ou homossexuais. Tem a ver com dois seres humanos dando prazer um ao outro, dedicando-se com a atenção focada em planos mais elevados de percepção, elevando o potencial do outro para penetrar nas altas esferas dos planos criativos.
O objetivo maior é o amor como essência e como condição básica da vida. É o reconhecimento e a constatação de que vivemos num Oceano Cósmico Universal, onde a água é substituída por um outro caldo energético, denominado amor. A conexão com essa fonte generosa de amor constitui-se como a experiência mais significativa da nossa vida, criando memórias que nos acompanharão eternamente, pois esses liames com a fonte do amor não podem jamais serem rompidos ou esquecidos.
Esse é o princípio do Tantra, cuja relação sexual é chamada de Sahaja Maithuna. No Tantra, a mulher, chamada de “Shakti” – termo que significa energia – é reverenciada como uma divindade. Ao invés de ser possuída, é ela quem “possui”, é ela que, através de seus movimentos, conduz todo o ato. Para o desenvolvimento da Sahaja Maithuna, é necessário preparar o corpo físico, condicionando os músculos sexuais para sustentarem uma qualidade maior de energia por um período de tempo suficiente. É necessário também desenvolver os sentidos físicos, preparando os agentes sensoriais para alterar o “Gunas” (a qualidade) das sensações; a visão se altera, a audição abre novas perspectivas cerebrais, o olfato e o paladar se alteram e o tato adquire uma condição elétrica que produz um efeito muito especial sobre o nosso corpo, de aspecto vibracional. Tudo isso junto para propiciar aos praticantes um novo estado de orgasmo cósmico, impregnado de uma nova resposta sexual, denominada de “Experiência Oceânica”.
Encarar a sexualidade como um caminho na busca pelo auto-conhecimento e a evolução interior é um reencontro com o modo como nossos ancestrais cultuaram o sexo e a sexualidade, longe do hedonismo que parece prevalecer nos dias de hoje. Através da sexualidade sagrada, homens e mulheres conectam-se com um aspecto primordial da vida, onde prevalecem o direito, o amor, a liberdade e a justiça, campo fértil para a ampliação do nosso estado de consciência e expansão da nossa criatividade.
Esse caminho só será percorrido por aqueles que estiverem dispostos a encontrá-lo, valorizá-lo e reverenciá-lo, incorporando as suas práticas a uma nova forma de vida. A sua sexualidade pode ser adormecida, desperdiçada ou cultuada como uma fonte de rejuvenescimento e de prazer. Cabe a você fazer a sua escolha.
Convidamos você a conhecer o nosso trabalho e a desenvolver-se de uma maneira totalmente nova, explorando todo o potencial de expansão presentes no seu corpo. No Centro Metamorfose dispomos de todas as condições para você desenvolver a sexualidade sagrada. Os terapeutas credenciados mais experientes poderão conduzi-los através das práticas de fortalecimento dos músculos sexuais e na abertura dos sentidos, de forma a lhe permitir perceber o real significado da sexualidade sagrada.
Todos os trabalhos do Centro Metamorfose baseiam-se numa proposta que proporciona “resposta fisiológica” ao que está sendo proposto. Não possuímos uma visão esotérica ou mística do Tantra. Todas as respostas que acontecem durante os trabalhos surgem como resultado das movimentações energéticas e hormonais que sustentam a base dos resultados, principalmente sobre a atuação das glândulas, em particular a Glândula Pineal e o Timo.
No Centro Metamorfose você pode confiar!
Deva Nishok


BENEFICIOS DO ORGASMO


Los Benefícios del los ORGASMOS bye Michel Odent
por Consciência Tântrica (Notas) em Segunda, 21 de março de 2011 às 12:09
El orgasmo, el parto (no interferido) y la lactancia materna son procesos biológicos integrados dentro de la esfera sexual, y que comparten las mismas hormonas. Si los estados alterados de consciencia ligados al consumo de drogas o prácticas meditativas han sido estudiados durante muchos años, no ha ocurrido así con aquellos que están ligados a procesos fisiológicos normales, como ocurre en los vinculados a la sexualidad y el nacimiento.

Todos los episodios de la vida sexual humana pueden alcanzar un clímax, una cúspide. Estas situaciones cumbre son intensas respuestas en todos los nieveles del sistema nervioso y endocrino, cambios en los niveles de consciencia, posibles sendas para escapar momentáneamente de la realidad mundana espacio-temporal, vías para alcanzar estados emocionales que podemos calificar de trascendentales.

La oxitocina, "hormona tímida", es el eje central de todos los estados orgásmicos y extáticos, y la liberación de endorfinas como analgésicos naturales explica fácilmente el efecto calmante de los orgasmos.

Durante miles de años, todas las culturas han ejercido un fuerte control sobre todos los aspectos de la sexualidad, como el parto y el amamantamiento, además de la sexualidad genital.

A pesar de que múltiples disciplinas científicas hacen hincapié en la importancia del período que rodea al nacimiento en el desarrollo de la capacidad de amar, el parto y el mamantamiento son episodios de la vida sexual humana en los que se interfiere de forma sistemática. Tanto durante el parto como durante cualquier otra experiencia sexual, el neocórtex tiene que ponerse en reposo para facilitar la producción de un torrete hormonal, de "cóctel orgasmogénico" que nos permita relajarnos en la cumbre de la trascendencia. Para ello, cualquier experiencia sexual, también el parto, precisa de -privacy-, de la sensación de "no sentirnos observados".

Lo que el Dr. Michel Odent llama " la cientificación de los orgasmos " no es sino un aspecto más de " la cientificación del amor". En este momento clave de la historia de la humanidad, cualquiera que esté interesado en el futuro de nuestra especie debería preguntarse:

¿Durante cuánto tiempo podrá la especie humana sobrevivir sin Amor?

Si hay futuro para el Amor, también hay futuro para la humanidad.